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Saturday 30 July 2011

Incluir ou excluir?

Jameson - O Poeta fingidor
Jameson com o seu olhar perdido, sentado no fundo da sala, sonha… Sonha que sabe as tabuadas de cor e salteado e que está sentado na fila da frente, acompanhando os colegas nas longas tardes de aprendizagem obrigatória. Sonha com alguém que lhe diga: “Excelente trabalho, Jameson! És o maior.”
Como não sabe ler nem escrever, Jameson desenha… Desenha personagens fantásticas que não sabe exprimir por palavras, um mundo onde não haja uma professora de apoio que o martirize, com o infinito método das 28 palavras que ele não consegue compreender. Desenha colegas que não sejam tão horrivelmente mais inteligentes, mais rápidos, mais bonitos que ele…
        Jameson é um menino Brasileiro de oito anos. Tem um quociente de inteligência de 51 e uma quantidade de necessidades educativas especiais que nem a família nem a professora estão preparadas para assumir. Aprendeu a usar a invisibilidade como uma arma de defesa, por isso é chamado de sonso, pois faz as coisas pela calada, risca o trabalho dos colegas, roupa os lápis e o giz da sala-de-aula, adormece nas leituras colectivas e na resolução das fichas. 

Ana Rita - A menina esquecida
- “Perderam o processo da Rita.” Este ano já ardeu!” - Que lata! – pensa a Rita que só sabe escrever a palavra “lata”, qualquer que seja o texto, o ditado, a cópia ou exercício. O caderno da Rita está repleto de longas linhas com: latalatalatalatalata….
Esqueceram-se da Rita e por isso, a Rita não foi avaliada por uma psicóloga; não foi sinalizada como tendo necessidades educativas especiais; não terá apoio especializado no próximo ano lectivo. A Rita reprovou o ano, não por não se ter esforçado, não por não ter tentado acompanhar o ritmo da turma, mas porque se esqueceram dela.

Mauri - O menino mau
Mauri é Angolano, veste calças descaídas e um boné sebento com a cara do Bob Marley. “O Mauri bateu-me!” “O Mauri roubou-me o lápis!” “O Mauri fez-me o dedo do meio”. O Mauri não pára. É uma bomba relógio! Bate, insulta, cospe, rouba e ri… Ri dos outros. Ri das professoras. Ri das auxiliares. Ri dele próprio. O Mauri aprende, mas não quer! Não quer porque sabe que quando chegar a casa a vai encontrar vazia, os pais estarão a trabalhar. Uma sandes em cima da mesa, um colchão no chão e a televisão.
A Professora diz que só vê os pais duas vezes por ano, no acto da matrícula e na entrega dos papéis para a segurança social. O Mauri cobiça o material dos colegas e quando não os pode ter, destrói-os. Quando o tempo o permite, passa o que lhe resta dos dias na rua, com uma bola furada, ou se esta foi apreendida pela escola, uma lata velha.
O Mauri apanha tareias de cinto mas diz que não se importa pois já está habituado. Em casa ninguém pode com ele, só dá despesa e problemas. Na escola, é o terror das auxiliares e dos colegas que suspiram de alívio quando por uma razão ou por outra não vai à escola.
O Mauri tem sete anos e está sozinho.

Estas três crianças foram minhas alunas no último ano que leccionei em Portugal. São as vítimas mais gritantes de abandono familiar, escolar e social. O ensino inclusivo pretende um acesso à informação equitativo para todos. É neste sentido que defendemos que se devem trabalhar os mesmos conteúdos com todos os alunos, alterando apenas a forma de como os trabalhar, diferenciando-os para ir ao encontro dos interesses e capacidades de cada aluno. O ensino inclusivo, de uma forma geral, aumenta o trabalho do professor dentro e fora da sala de aula. Ao professor é pedido que planifique as actividades com antecedência, que durante a dinamização das mesmas aja em conformidade com o cargo que ocupa, e que no fim, avalie usando os melhores critérios. Isto é o que se pede a um professor...
A escola deve ver qualquer criança como um sujeito activo, e o seu objectivo deve ser ajudá-la a seguir um percurso equilibrado de socialização, e possibilitar o desenvolvimento de habilidades, a construção de conhecimentos e estabelecer relações de afecto, que sedimentem a construção de uma experiência de vida rica e um desenvolvimento harmonioso. 
Quando comecei a trabalhar como professora de apoio numa escola em Londres, senti saudades dos meus ex alunos portugueses com todas as suas desgraças, vidas mal vividas, insucessos e falta de amor. As salas de aulas inglesas são uma mini torre de babel, com crianças de todas as nacionalidades e cinco adultos a trabalhar com cerca de 32 crianças: 2 professores e 3 auxiliares. As salas estão repletas de material gratuito para ser utilizado por alunos e professores.  A psicóloga e assistente social trabalham somente numa escola e conhecem aqueles alunos e respectivas famílias d trás para a frente. O sistema funciona mas falta-me qualquer coisa. Falta-me saber que todos aqueles a quem tive o privilégio de ensinar usufruem das mesmas regalias de uma educação justa e para todos, independentemente do país de origem ou do meio sócio-económico. Ser professora tem destas coisas... Cada criança deixa uma marca profunda na vida de quem ensina.

Wednesday 6 July 2011

História dos Pasteis de Nata

A propósito de pasteis de nata, estive a pesquisar a história dos mesmos e mais uma vez descobri factos que desconhecia. Em 1837, Lisboa e Belém eram duas cidades distintas ligadas por embarcações a vapor. Nessa altura, os Monges do Mosteiro dos Jerónimos, numa tentativa desesperada para salvar o Mosteiro, começaram a vender pasteis de Belém. Os turistas, atraidos pelo Mosteiro e pela Torre de Belém deliciavam-se com os maravilhosos pasteis. Por isso, os monges trataram logo de guardar a receita em lugar seguro. Só os chefes pasteleiros sabem a receita secreta e têm que fazer voto de silêncio para salvaguardar esta deliciosa receita.  

Tuesday 28 June 2011

Condessa de Segur e os Desastres de Sofia

Os Desastres de Sofia foi o meu primeiro amor literário. Li a edição de capa dura que a minha mãe tinha lá em casa dos anos 60. Não tinha as imagens dos livros editados posteriormente. Depois desse seguiram-se As Meninas Exemplares, O Bom Diabrete entre outros. Mas só há pouco tempo é que me deparei com a biografia de Sofia Feodorovna Rostopchine, quando pesquisava uns artigos sobre literatura infantil. A Condessa de Ségur, ao contrário do que eu imaginava nasceu em São Petesburgo e não na cidade da luz a 1 de Agosto de 1799. A sua família era originária da Mongólia e o seu pai foi Ministro das Relações Exteriores da Rússia. Em 1819, após a invasão francesa, sob o comando de Napoleão Bonaparte, a família partiu para o exílio, primeiro em Varsóvia e depois Paris, onde se converteram ao Catolicismo. Foi também em Paris que Sofia conheceu e se casou com o Conde de Ségur. Foi um casamento infeliz, devido à negligência e inconstância do Conde, mas que no entanto originou oito filhos. A Condessa de Ségur escreveu o seu primeiro conto aos 58 anos. Morreu em Paris a 9 de Fevereiro de 1874.  

Bits and Pieces

Com Bits and Pieces, pretendo criar um espaço não só dedicado a um tema específico, mas a qualquer tema que interesse a quem por aqui passar.  Embora os meus interesses primordiais sejam no campo das artes, literatura, educação e viagens, convido qualquer visitante a divagar e partilhar aquilo que desejar comigo. Pode ser uma receita de culinária, um poema, uma imagem, uma história, qualquer que seja o presente, é bem vindo.